domingo, 24 de agosto de 2014

Tarsila

Hot dog
Sol forte
Praça cheia
Barraca feita.

Comprar presente
Amar a minha gente
Porta retrato,
Com bloco de recado
Espero que lhe seja de bom grado.

Ir embora
Subir a avenida.
A moça chama
E diz: Eu quero encher a barriga!
O impulso era 'deixar para lá'.
Mas Deus disse: Vai lá!

Mulher de olhos fundos, profundos.
Verdes e sem assuntos.
Só quero pão mesmo, minha senhora.
Se puder ajudar, lhe agradeço e vou embora.

Tarsila era o seu nome.
Nome de artista, eu disse.
Conheci um pouco da sua dor e do seu apetite.

Conheci também seus filhos.
Lindas crianças
Que traziam no olhar duras lembranças.

Pão no chão
Mãos dadas
Palavras ditas
Oração e abraços,
Bem apertados.

Tarsila ficou lá,
Mas disse que ia voltar pro seu lar.
Falei sobre o caminho.
Sobre Aquele que transformaria o profundo
Dos seus olhos tristes e vazios.
Os olhos dessa vez brilharam, pude ver uma lágrima escondida
Tentando descer ao lado.
Ela agradeceu mais uma vez, mas ficou lá com o seis.

Continuei a jornada
Subi a rua, suor escorreu pela nuca.
Esperei no ponto.
O ônibus passou. Cobrador conversou.
Boa tarde, eu disse, e um tchau pro senhô.

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